quarta-feira, 8 de julho de 2009



- Lembra-se do seu pai?

Também gosto de velhas perguntas; então, volto a pergunta de Hamm dentro do contexto de sua conversa com Clov:
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- Lembra-se quando você chegou aqui?
- Não. Era pequeno demais, você me contou.
- Lembra-se do seu pai?
- Já me fez essa pergunta milhões de vezes.
- Gosto de velhas perguntas. Ah, velhas perguntas, velhas respostas, não há nada como elas. Fui eu quem foi um pai para você.
- Foi. Você foi isso pra mim.
- E minha casa o seu lar.
- É. Esse lugar foi isso pra mim.
- Sem mim, sem pai.
- Sem casa...

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Os diálogos entre Hamm e Clov sugerem um cunho autobiográfico, mais de Hamm que de Clov, já que vem dele a "verdade dos fatos" que os dois compartilham ao longo da peça Fim de Jogo. Isso é logo sugerido numa das primeiras referências ao passado, quando Hamm diz "Está na hora da minha história".

Ora, essa história tanto pode ser uma narrativa autoreferente, baseada em fatos reais, como também uma narração de ficção, inventada por Hamm.
Hamm aproveita-se dessa superioridade para subjugar Clov, não só como um pai preposto, provedor de lar e alimento, mas também como dono do passado de ambos. A Clov parece não restar outra alternativa senão submeter-se.

Até quando?

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